Falar de eleição papal é lembrar de um texto muito importante da igreja: At 1,26, texto que  fala de eleição de Matias para substituir Judas para compor o grupo dos 12 apóstolos.   5z2116

Em nossas traduções aparece a palavra “sorte”, porém o substantivo grego do texto original  é κλῆρος (klēros), que tinha em sua tradução comum (literal) a palavra “sorte, sorteio”. Era uma  prática antiga semelhante ao “tirar a sorte”. Acontecia quando se precisava fazer divisão,  distribuição ou partilha. 

Em alguns pensadores da filosofia grega, tinha o sentido destino que um ser humano recebe,  tendo como base o conceito grego (semelhante à ideia de μοῖρα (moira), o destino inevitável. As  Moiras (Parcas em latim) eram três deusas que fiavam, mediam e cortavam o fio da vida. Nada  escapava do destino que elas traçavam. 

No Antigo Testamento, na Versão Grega do Antigo Testamento, chamada de Versão dos LXX  ou Septuaginta, o conceito está relacionado à herança, promessa (Js 14,2) e o termo evolui para  herança como parte divina (Dt 4,20; 9,29 em que Israel é o klēros (eleito) de Deus. Chega-se, por  fim ao sentido de eleição/escolha divina (Nm 26,55). 

No Novo testamento, em Cl 1,12 o termo klēros é traduzido como herança. Mas em textos  como de At 1,26 e 1Pd 5,3 vai significar “eleição divina, desígnio divino ou algo que é designado,  atribuído a alguém”. Assim, o termo não evoca sorte, acaso, mas remete aos desígnios de Deus  com a colaboração humana. 

A palavra “clero” que conhecemos em português, relacionado aos ministros ordenados  deriva dessa palavra, pois pelo desígnio divino que visa a salvação, eles foram eleitos. 

A eleição (klēros) do novo Papa é divina, mas requer a resposta humana. Nossas orações  devem focar para que um dos cardeais dê essa resposta a essa escolha/eleição divina ao Sucessor  de Pedro. 

Para nós também, cabe perceber que Deus nos escolhe e nos chama ao serviço na Igreja  e Ele espera uma resposta livre. Não respondemos por ser inevitável (moira), por achar que é  “destino”. Deus nos oferece oportunidade de escolha. Quem diz sim, colabora espontaneamente  ao chamado, à eleição divina (klēros). 

Pe Marcos Ribeiro de Carvalho. 

Pároco da Paróquia São João Batista e Imaculada Conceição. 

Professor do Instituto de Teologia “São João Paulo II”.